Quando era hora de celebrar, Dona Messias se animava. O gosto pelas serestas, pelas reuniões de família, da Igreja e das escolas onde trabalhou é um traço marcante em sua vida, outro belo legado que ela deixou.
A seguir, alguns trechos e fotos do livro de Alice Bites sobre as festas tradicionais da família, assim como sobre a tradição do sufixo ARQUI, no nome de 10 dos seus 22 filhos.
“João Bites e Dona Messias gostavam de reunir amigos para festejar. O que não faltava era motivo, que muitas vezes começava com uma brincadeira. E lá iam as mulheres para as panelas, pois a brincadeira virava festa, que varava noite adentro. O velho Bites gostava de uma boa música de dança e, quando Dona Messias chegava ao salão, abria-se a roda para o casal que mostrava sintonia nos passos. Dona Messias gostava de dançar. Ela dizia que Bites a girava num passo só. E, à medida que rodava pelo salão, sentia sua jovialidade revigorada. Interessante lembrar que era o esposo de Dona Messias que ensinava as filhas dançarem.
Messias gostava de lembrar-se das muitas festas desde os tempos do Registro do Araguaia, Cedro, Trindade, Valparaíso e outros lugares em que era convidada. Assim como das serestas, bem como gostava de solfejar músicas especiais. Os filhos, de vez em quando, combinavam de selecionar músicas da preferência da matriarca e iam na madrugada, em dia de aniversário ou datas especiais e quando cantavam a música, “Abre a porta ou a janela”, se a porta abrisse, todos entravam para um delicioso café. Mas se só piscasse a luz, ali finalizava a seresta.
Dos bailes, ela gostava de contar de sua juventude. Dessa época, suas danças preferidas eram “rancheira” e “valsa”. Não gostava de ficar pisando no mesmo lugar. Gostava de girar pelo salão. Se a moça ia ao baile, tinha que estar disposta a dançar, pois as moças não podiam enjeitar o pedido da dança, nem mesmo se fosse desconhecido, pois ali era conhecido como festa para amigos ou conhecido do festeiro, “tidos como pessoas de bem”. Portanto, seria uma desfeita enjeitar o convite. Ainda existia a dança com o chapéu, onde os pais utilizavam para fazer troca de pares, principalmente se percebesse algum engraçadinho com alguma moça, um cavalheiro colocava o chapéu em outro cavalheiro que tinha que ceder a dama imediatamente. Messias gostava muito das serestas.” (pg. 119)
FESTAS DA FAMÍLIA
DONA MESSIAS EM FESTAS DA FAMÍLIA
As serenatas
“Falar das serenatas era motivo de alegria para a Dona dessa história. Mesmo avaliando que as serestas dos últimos tempos eram diferentes das que vivenciou no passado, ainda assim ela gostava muito. O forte das serestas eram as músicas de valsas brasileiras. Os seresteiros escolhiam as músicas que, às vezes, eram fora do esperado repertório, mas nunca abandonava a preferência do apresentante ou do solicitante. O roteiro dos seresteiros era mantido em segredo, que era para acordar os ouvintes com a surpresa das músicas. Geralmente cantavam três a cinco músicas, tendo e já despedindo para seguir o roteiro da seresta. Geralmente, na última casa da seresta era cantada a música “Abre a porta ou a janela”, que era para dar continuidade à cantoria que às vezes varava a noite. Uma vez a porta abrindo era porque estavam todos convidados a entrar. Aí vinham novos pedidos de músicas preferidas dos donos da casa, que geralmente serviam petiscos e vinhos e ou outras bebidas. As músicas mais pedidas eram de Nelson Gonçalves, Vicente Celestino, Francisco Alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo, entre outros. O ouvinte tinha o direito de gritar de dentro de sua casa uma música, a qual os seresteiros iam cantando.
A apresentação da seresta era sempre próxima da janela. Todos os seresteiros e acompanhantes eram orientados a permanecerem em silêncio, até mesmo os que ingeriam bebidas a mais. Se tivessem comportamento inadequado não poderia acompanhar o roteiro. Os jovens seresteiros nem sempre sabiam cantar ou tocar instrumentos musicais, juntavam seis a dez rapazes para sair impressionando as moças a quem pretendiam namorar ou apenas agradar. Então convidavam e pagavam músicos para acompanhar e na janela da pretendente cantavam, chegando na casa escolhida aproximava da janela somente os músicos e se o interessado na moça quisesse que descobrisse quem estava encomendando a seresta aparecia também. Aí jogava uma rosa e caso ela abrisse a janela, os demais ficavam afastados em silêncio e se juntavam cantando para a rota da próxima casa da lista, que podia ser também antigos amigos, que na maioria das vezes abriam a porta e finalizava ali a noite de seresta.” (pg. 120)
CASAL DANÇANDO
DONA MESSIAS E JOÃO BITES DANÇANDO
DECORAÇÃO DE FESTA DA FAMÍLIA
ANIVERSÁRIO DE DONA MESSIAS
Os cantores e músicas da preferência de Dona Messias:
1 – Carlos Galhardo, com as músicas “Fascinação”, “Boneca Cobiçada”, “O Destino Desfolhou” e “A Última Inspiração”;
2 – Do compositor Carlos Gomes, “Tão Longe, De Mim Distante”, regravada por Francisco Petroneo, que também é cantor da música “Baile Da Saudade”;
3 – “Valsa Da Despedida”, cantada por Francisco Alves e Dalva de Oliveira, deles também as músicas, “A Noite Do Meu Bem” e “Longe dos Olhos”;
4 – “Flor Do Cafezal”, cantada pela dupla Cascatinha e Inhana, que também canta “Meu Primeiro Amor” e “Colcha De Retalho”;
5 – “Chalana”, cantada também por Duo Ciriena;
6 – “Chuá-Chuá” e “Saudade De Matão” são algumas das várias músicas que Dona Messias gostava de ouvir na voz da dupla Tonico e Tinoco;
7 – “Aquela Flor”, de Alvarenga e Ranchinho, a dupla também canta “Violão Em Seresta”, com participação de Nilton Teixeira;
8 – “Saudade De Minha Terra”, cantada por Goiás Belmonte;
9 – “Luar Do Sertão”, cantada pelo famoso rei do baião, Luiz Gonzaga;
10 – Retalhos D’alma, cantada por Gastão Formenti;
11 – Casinha Pequenina, cantada por Silvio Caldas; 12 – Leva Eu, Sodade, cantada por Nilo Amaro;
13 – Peixe Vivo, cantada pelo grupo musical infantil Palavra Cantada e regravada por vários cantores como, por exemplo, Milton Nascimento;
14 – O Ébrio, cantada por Vicente Celestino, que também canta a música
Mia Gioconda;
15 – Feliz Aniversário, cantada por Dircinha Baptista com participação da dupla Alvarenga e Ranchinho;
16 – Último Beijo, cantada por Zequinha de Abreu;
17 – E Você Não Dizia Nada, de Gilberto Alves Martins, sendo regravada por vários cantores posteriormente;
18 – Mágoas de Caboclo, cantada por Nelson Gonçalves e por vários outros artistas como, Orlando Silva e Vanessa da Mata;
19 – Beijinho Doce, cantada pela dupla Eliana e Adelaide Chiozzo;
20 – Tá-hi (Pra Você Gostar De Mim), cantada por Joubert de Carvalho e regravada por vários cantores, como por exemplo, Carmem Miranda;
21 – Lá No Pé Da Serra, (compositor e cantor)
Elpídio dos Santos;
22 – Cabecinha No Ombro, cantada por Paulo Borges, e atualmente é regravada por muitos artistas;
23 – Cabocla Tereza, cantada por João Pacífico; – “Amor de Mãe” Entre outras, como “Lampião de gás” que era também uma das preferidas do esposo João Bites.” (pgs. 119 e 120)
“Em 1908, véspera de São João, nascia João Bites Leão. Celestina já havia perdido 7 filhos, ou aborto imprevisto ou recém nascido. Depois de tanto sofrer fez uma promessa, passaria o resto de sua vida rezando o terço no dia de véspera do santo, se Deus desse vida e saúde ao menino. No sertão baiano, assim como em várias regiões do Brasil, era comum fazer tais promessas se o filho “vingasse”, maneira de dizer na difícil tarefa da sobrevivência infantil.
E o filho nasceu em 23/6/1908. Com saúde se criou, e em todos os anos Celestina chamava os vizinhos e parentes para rezar e agradecer pela vida do filho. Fez isso até o fim de sua vida. Quando caiu doente, pediu Messias que desse continuidade à promessa, pois temia pela saúde do filho junino. Messias nunca descuidou, sempre fez o terço no dia 23 de junho reunindo família e amigos. Às vezes aproveitavam a oportunidade para fazer o batizado na fogueira; às vezes não tinha canjica, mas o terço e a pipoca sempre teve. Ainda hoje a família reza o terço que virou tradição, e tem pipoca, canjica, fogueira e até quentão como era o costume da matriarca, pois que é período frio. Ao término da reza todos ficam para aproveitar e pôr a conversa em dia, muitos gostam de ficar perto da fogueira, outros na cozinha e a meninada sempre correndo e gritando. E olha que sempre têm muitas crianças nessa família, que não para de crescer.” (pg. 231)
ÚLTIMO TERÇO DE SÃO JOÃO COM DONA MESSIAS
TERÇO DE SÃO JOÃO
O dia 1º de janeiro é especial para família de Dona Messias. Desde quando o esposo João Bites e amigos começaram uma brincadeira com uma garrafa de pinga. Um ano depois avisa a Messias do convite aos amigos, e convidam outros amigos e familiares para uma reunião festiva em sua casa. O dia fica marcado por uma forte alegria de todos e ocorre a ideia de pegar duas garrafas de pinga, uma para ser aberta imediatamente e outra para ser marcada e guardada, podendo ser aberta apenas dez anos depois, no horário determinado para às 17h. No ano seguinte os amigos vão conferir se a garrafa está guardada. Na animação colocam as crianças para correrem atrás de patos e faz novamente farofa tal qual tinha acontecido no ano anterior. Resolvem pegar mais duas garrafas de pinga e repetir o feito, bebendo uma e guardando a outra para beber após dez anos. Estava iniciado aí a formação da tradição da pinga de dez anos.
A brincadeira do encontro marcado serviu para os amigos voltarem em todos os anos seguintes no mesmo dia e horário, sempre dizendo que tinha que conferir se a pinga estava mesmo guardada.
Para os visitantes que chegam no dia 1º janeiro pela primeira vez se faz necessário as explicações da tradição. Pois esse dia “primeiro” para família Bites é registrado o grande dia da reunião da família, ou seja “o dia da farofa e da pinga de dez anos”, a simbologia da honra e compromisso de uma confraternização que reúnem familiares e amigos próximos, garantindo sempre o retorno, pois que se abre uma garrafa para repartir entre todos os presentes e coloca outra reafirmando o compromisso a cada primeiro de janeiro às dezessete horas. Passando a ser um costume e quase uma “obrigação” dos familiares a participarem da reunião intitulada “a festa da pinga de dez anos”. (pg. 227)
PINGA DOS 10 ANOS
MISSA DA FESTA DA PINGA DOS 10 ANOS
DONA MESSIAS NA FESTA
BRINDE NA FESTA
PINGA DOS DEZ ANOS DE 2004
ENTREVISTA DA TV ANHANGUERA
FAMÍLIA REUNIDA
A MESA COM AS PINGAS DE 10 ANOS
“Para atender a curiosidades de amigos(as), com orgulho, informo que a família Bites é composta de 19 (dezenove) irmãos naturais e nossos pais ainda criaram mais outros três (João Oldack, José Honório e José Honorato), os quais são considerados irmã(ãos), totalizando 22. Em variados momentos, pessoas indagam sobre a origem dos nomes com o prefixo “ARQUI”, inclusive em entrevistas para Rádio.
Então, resumidamente, com a devida licença às memórias do Papai e da Mamãe, relata-se a seguir versões dos nomes escolhidos para os filhos de Bites e Messias com pouco de suas histórias.
Existe mais de uma versão sobre a origem dos “ARQUI” na família Bites e para cada filho tem uma explicação. O Avô paterno se chamava ARQUIAS e em homenagem a ele, o primeiro filho fora registrado como “ARQUIAS NETO”. Moravam na zona rural, mas o patriarca havia estudado até o colegial na capital da Bahia, Salvador e era fã do matemático ARQUIMEDES. Ele, então, decidiu por colocar este nome no filho seguinte, que veio a nascer no dia 12 de junho de 1947, véspera de Santo Antônio, fato que levou avô Arquias a dizer para o filho Bites que “o menino já nascera com o nome de ANTÔNIO”, o que o não houve concordância no momento, dizendo que o mesmo já tinha nome.
Mas o Vovô veio a falecer de infarto cinco dias após. Passado mais de mês, o Papai se preparou para ir registrar o filho. Na saída, a Mamãe pediu pra Ele reconsiderar e atender o último pedido do Sogro. Ele não respondeu nada, mas quando voltou apresentou a Certidão de Nascimento e Mamãe ficou muito emocionada pelo atendimento do pedido. Em seguida, Ela disse pra Ele ficar tranquilo e esperar só mais um pouco que viria outro filho e que teria o nome de ARQUIMEDES. Assim aconteceu. Depois vieram outros e outros filhos, anualmente, e o Papai foi registrando a sequência com o prefixo de “ARQUI”, num total de dez (10), conforme relação. E quando a Mamãe achou que seria o último filho, Ela pediu e até mesmo exigiu que se homenageasse o Avô materno, daí o nome do “BERILO NETO” ao décimo quarto filho do casal. Só que depois ainda vieram mais dois, pela ordem cronológica o Arquisio e o Arquicelso.” (texto de Arquivaldo Bites, pg. 285)